Notícia do Jornal I
Faz hoje 70 anos que o líder do movimento independentista
indiano foi assassinado em Nova Deli. Haveria outro assassino e mais uma bala?
(30 de Janeiro de 1948)
O Supremo Tribunal da Índia
decidiu no dia 11 que não existe qualquer razão para reinvestigar o assassinato
de Mahatma Gandhi nem para nomear uma comissão de inquérito, pois não há
nenhuma prova que sugira que tenha havido outro assassino além de Nathuram
Godse, o extremista hindu que a 30 de janeiro de 1948 lhe desferiu três tiros e
o matou em Nova Deli. Para o tribunal, Godse foi o assassino material e Narayan
Apte o seu cúmplice. Ambos foram condenados à morte pelo crime e enforcados a
15 de novembro de 1949.
Para a organização hindu de
extrema--direita Abhinav Bharat, a investigação à morte de Gandhi foi “o maior
encobrimento da História” e houve um outro assassino que teria disparado um
quarto tiro, tiro este que acabou por ser o fatal - um homem “misterioso” de
que não se falou na investigação e que não teria passado à História. A teoria
assenta na confissão de Pankaj Phadnis, um devoto seguidor de Veer Savarkar,
crítico do Congresso Nacional Indiano e da partição da Índia, cunhador do termo
hindutva (orgulho hindu) e que chegou a ser julgado na altura como inspirador
do crime, mas foi absolvido.
Para Amrendra Sharan, o advogado
nomeado pelo Supremo para analisar os documentos apresentados para o caso
voltar a ser aberto, não há qualquer indício, nas 4 mil páginas arquivadas do
processo e da comissão de inquérito que em 1969 reanalisou o caso, que
justifique novo julgamento.
Nem a autópsia revela nem as seis
testemunhas falam de um quarto tiro ou de um outro atirador que não Godse. O
envolvimento de uma qualquer agência de informação estrangeira (nomeadamente
britânica) na manipulação de provas e influenciando o tribunal não está assente
em nenhum facto concreto. A existência de um grupo dos serviços secretos
chamado Força 136 não aparece em qualquer documento da altura ou posterior.
“As balas que penetraram no corpo
de Mahatma Gandhi, a pistola a partir da qual foram disparadas, o atacante que
disparou as balas, a conspiração que levou ao assassinato e a ideologia que
levou ao assassinato foram todos perfeitamente identificados. Não há nenhum
material substantivo descoberto que possa levantar alguma dúvida sobre algo
enumerado antes e que requeira uma reinvestigação no processo do homicídio de
Mahatma Gandhi ou para constituir uma nova comissão de averiguação com respeito
ao mesmo”, escreveu o advogado no relatório que ajudou o Supremo Tribunal na sua
decisão.
Mesmo assim, 70 anos depois do
assassínio, há quem prefira acreditar que Godse não era mais do que um peão nas
mãos dos britânicos, a potência colonizadora que fora forçada a abdicar da joia
da coroa do seu império por força da luta pacífica de Gandhi. Tal era a
dimensão atingida pelo homem em vida que no sítio onde o seu corpo sucumbiu aos
ferimentos se abriu uma cratera, pela ânsia das pessoas de levarem para casa um
pouco da terra por onde se infiltrara o sangue do mártir da Índia.
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